Estrutura do Judaísmo

21/09/2012 09:57

 

1.          Introdução

O Título deste trabalho parte abraça, no seu mais amplo sentido, todo o judaísmo, pois para o judeu, a cada detalhe de sua experiência e a cada elemento do seu ambiente, vincula-se um significado religioso. Sua história, seu país, seu povo, tudo fazia parte da sua religião. Mas o nosso propósito aqui é tratar dos elementos da vida judaica palestiniana, que de modo claro se liga àquilo que consideraríamos essencial e puramente religioso. Havia determinadas instituições envolvidas na vida e culto religioso dos judeus: a evolução de sua história religiosa produzira seitas distintas; a religião, tal como a conheciam, era, em sua essência, expressa através da Lei, e a alma religiosa do judaísmo via no futuro o conteúdo da total realização de suas esperanças e ideais nacionais. A estes assuntos de caráter religioso nitidamente diferenciado, dedicaremos o capítulo presente.

2.          Seitas político - religiosas

1.               Escriba

Na antiga Israel, como em todos os países do Oriente próximo da antiguidade poucas pessoas conheciam a arte de ler e escrever pelo que a profissão de escriba era tida em alta conta.

Escriba ou escribas - Eram assim chamados porque sua tarefa era copiar as Escrituras, classificar e ensinar os preceitos da lei oral Mt 2.4, e manter registro cuidadoso de cada letra das obras do Velho Testamento um ofício destes se fazia necessário numa religião de leis e preceitos, e era uma função do Velho Testamento (2 Sm 8.17;20.25; 1Rs 4.3; Jr 8.8;36.10;12,26). Confira Fariseus Mt 3.7.

A este trabalho legítimo os escribas acrescentavam um registro de decisões rabínico sobre questões de ritual e profissão.

1.                        Como profissão

Eram empregados pelo público como secretários para transcreverem contratos legais necessários - Jr 32.12;36.26.

Alguns escribas eram conhecidos como “escrivão do rei” (2 Cr 24.11), era empregados na administração públicas e estavam ligados à corte real, onde o Escriba chefe agia como “secretário de estado” e figurava ao lado do cronista (mazhir), que estava incumbido de fazer os registros oficiais (2 Sm 8.16; 1 Rs 4.3). Sendo alto oficial o Escriba era um dos principais conselheiros do rei (1 Cr 27.32). Assim é que Sebna, o escriba, que posteriormente se tornou Primeiro Ministro, foi enviado por Ezequias com os anciões para confabular com os assírios que cercavam Jerusalém (2 Rs 18.18; 19.2; Is 36.3).

Alguns escribas eram empregados para serviços militares, eram convocados para a guerra, o seu principal oficial era designado de “escrivão-mor do exército”  (Jz 5.14; 2 Rs 25.19; Jr 52.25).

Havia escribas incumbidos de tarefas no templo, envolvendo a coleta de taxas (2 Rs 12.10). Os principais escribas contavam com aposentados próprios no palácio (Jr 36.12-21) ou no templo (Jr 36.10).

A Safá, o escriba, foi entregue o relo recém-descoberto contendo a lei, para que fosse lido perante o rei (2 Rs 22.8), porém, somente no período pós-exílico que os escribas assumiram o papel de copistas, guardiões e interpretes da lei (Ed 7.6) Esdras era ao mesmo tempo sacerdote e escriba (7.11), e bem pode ter agido como conselheiro na corte babilônica sobre assuntos judaicos, como faziam também os escribas especialistas da Assíria e a Babilônia.

2.                        As vestes dos escribas

Sendo pessoa dotada de educação e de meios, podia usar vestes finas dotadas de um receptáculo da pena ou “estojo de escrevedor” dependurado no cinto (Ez 9.2).

3.                        Equipamentos dos escribas

Seu equipamento incluía penas de cana (Jr 8.8) uma pequena faca para apagar a escrita e cortar o papiro (Jr 36.23), e, em alguns casos estiletes para escrever na escrita coniforme. A profissão era freqüentemente seguida por família inteiras (1 Cr 2.55), e diversos filhos, seguiam seus pais no ofício.

Escribas - (em hebraico, sopherim; em grego, grammateis, nomikoi “doutores da lei”, e nomodidaskaloi “mestres da lei”. Os escribas eram técnicos no estudo da lei de Moisés. (Torah). A princípio essa ocupação pertencia aos sacerdotes. Esdras era sacerdote e escriba, Ne 8.9. Os dois ofícios não eram necessariamente separados. O escriba teria que estudar sem qualquer distração. (Ec 38.24 - Eclesiástico).

4.                        Doutrina e política dos escribas

1.                         Os escribas como políticos

Os escribas se reuniam em famílias e associações. No tempo de Bem Siraque, início do segundo século A.C., eles ainda não formavam um partido distinto, mas se tornavam em tal devido às medidas repressivas de Antíoco Epifânio.

Podiam ser encontrados em Roma, no período imperial posterior, bem como na Babilônia nos séculos V e VI D.C. Somente depois do ano 70 D.C. é que aparecem fatos a respeito de escribas individuais. Exerciam influência principalmente na Judéia, até 70 D.C. mas também podiam ser encontrados na Galiléia (Lc 5.17) entre a dispersão judaica. Os livros apócrifos e pseudepígrafos do A.T. falam do início do partido dos escribas.

2.                         A doutrina dos escribas

Os escribas acrescentavam em seus registros de decisões Rabínica questões de ritual: (halachoth); o novo código resultante daquelas decisões (mishna); as sagradas lendas hebraicas (gemara formando junto com o mishna, o talmude); os comentários sobre o Velho Testamento (Imidrashim); as discussões sobre estes hagada); e finalmente interpretações místicas que entravam nas Escrituras outro significado além dos óbvios, gramaticais e léxicos (a Kabala), parecido com método alegórico de Orígenes. No tempo do Nosso Senhor Jesus Cristo, os fariseus consideravam como ortodoxia aceitar este volume de obras superimpostos que obscureciam as Escrituras.

Não há menção sobre os escribas no quarto evangelho, eles pertenciam ao partido dos fariseus, mas com um corpo eram distintos deles. Sobre a questão da ressurreição puseram-se no lado de Paulo e contra os saduceus (At 7.28,29), e condenava o formalismo exterior que fomentavam.

Os escribas perseguiam a Pedro e João (At 4.5), e participaram do martírio de Estevão (At 6.12). Embora a maioria feito oposição a Cristo (Mt 21.15), alguns deles vieram a crer. (Mt 8.19)

5.                        A função dos escribas era tríplice

1.                         Preservavam a Lei

Eram estudiosos profissionais da lei, bem como seus guardiões. Transmitiam decisões legais orais que haviam sido criadas em seus esforços de aplicar a lei mosaica a lei diária. Afirmavam que a lei oral era mais importante do que a lei escrita , por meio de seus esforços a religião estava sujeita a ser reduzida a formalismo que não atingia ao coração.

2.                         Dedicavam-se ao ensino

Reuniam em torno de si muitos alunos a fim de instruí-los na lei. Esperavam de seus alunos uma reverência maior que a que prestavam a seus pais. Os escribas - originaram o culto na sinagoga. Faziam conferência no templo (Lc 2.46; Jo 18.20).

Os ensinos ministrados pelos escribas devia ser gratuito (conforme os rabinos Zadoque, Hilel, e outros) mas provavelmente eram pagos (Mt 10.10), 1 Co 9.3-18, quanto a declaração de Paulo sobre o seu direito, e chegavam mesmo tirar vantagens de sua honrosa posição (Mc 12.40; Lc 20.47).

3.                         Chamados “Doutores da Lei”

E “mestres da lei”. Visto estarem incumbidos da administração da lei na qualidade de juizes do sinédrio. (Mt 22.35; Mc 14.43-53; Lc 22.66; At 4.5).

Segundo Josefo, “Doutor da Lei” e escriba são expressões sinônimas, pelo que jamais aparecem juntas no Novo testamento.

2.               Fariseu

1.                        A história da origem dos Fariseus

O nome "Fariseu” aparece pela primeira vez nos contextos dos primeiros reis-sacerdotes hasmoneanos. Os hasidim provavelmente se tinham divididos. A maioria baseando-se sobre a legitimidade do sumo sacerdote e o abandono a certas tradições, retirou-se da vida pública para guardar uma intervenção escatológica  da parte de Deus. A maioria tinha por alvo controlar a religião do estado.

 “Fariseu” - Vem de uma palavra hebraica significando separado. Em resumo temos a informar que, depois que o ministério dos profetas pós-exílicos terminou, homens piedosos chamados “CHASISIM” (santos), levantaram-se procurando manter viva reverência pela lei entre os descendentes dos judeus que retornavam do cativeiro na Babilônia. Este movimento degenerou no Farisaísmo do tempo de Jesus - Um apego a letra que cobria a lei com interpretações tradicionais que se diziam terem sido transmitidas pelo Senhor a Moisés como explicações orais de autoridade igual com a própria lei (Mt 15.2-3; Mc 7.8-13; Gl 1.14).

2.                        Os fariseus e suas relações com outros partidos

Os fariseus sempre foram um grupo de minoria. Sob Herodes, seu número orçava em pouco mais de 6.000 indivíduos. Suas relações com o povo comum, exibia por muitos trechos talmúdicos do segundo século D.C. indica que o rigor de suas interpretações sobre a lei não tinha atração intrínseca. Os apocalipticistas tiveram pouca influência, exceto por intermédio dos zelotes, e eram atrativos aparentemente para o proletariado desesperado. Os saduceus engrossavam suas fileiras principalmente dos mais ricos proprietários de terras. A tradição talmúdica distingue entre eles e seus aliados, os seus modos eram tão rigorosos como os dos fariseus.

A principal atração que exerciam entre o povo é que vinham da classe média inferior e das melhores classes de artífices, e procuravam fazer a lei tornar-se suportável pelo povo.

Por questões de ponto de vista religioso, entravam em contradições com os saduceus.

3.                        Os fariseus e os seus ensinamentos

Os fariseus eram uma seita restrita. Um membro era um chaner (isto é, ”entretecido” Jz 20.11), eram virtuosos, zelosos e auto-sacrificantes, mas também cheios de justiça própria (Lc 18.9) e destituídos do sentimento do pecado e da necessidade (Lc 7.30). Eles foram os principais perseguidores de Cristo, e objeto de suas inclementes acusações, como por exemplo: Mt 23.1-36; Lc 11.42-44.

Os fariseus criam na imortalidade da alma, que seria reencarnada (isto é, reanimado o corpo ressuscitado), e no domínio controlador da sorte (isto é Deus), e a descrença dos saduceus consideravam que a adoração no templo eram o centro e o propósito principal da lei. Os fariseus, frisavam o cumprimento individual de todos os aspectos da lei, da qual o culto era apenas parte, como a razão de sua existência. As diferenças externas, expressavam suas atitudes internas diferentes.

Uma das principais tarefas dos escribas era a de estabelecer o conteúdo da Torah escrita. Estes determinaram que a lei continha 613 mandamentos, sendo que 248 positivos e 365 negativos. O passo seguinte foi “fazer um fosso” , em torno deles, com suas interpretações suplementares, que não houvesse qualquer possibilidades de quebrá-los por acidente ou ignorância. Os mandamentos eram ainda aplicados por analogia, a situações não ligadas diretamente com a obediência do Torah.

Convencidos da correta interpretação do Torah afirmavam que essas tradições dos anciões (Mt 7.3) vinham de Moisés desde o Sinai.

Sem falar na insistência absoluta acerca da unidade e santidade de Deus, da eleição de Israel e da autoridade absoluta da Torah para o povo de Israel, toda a ênfase da religião farisaica era ética e não teológica. Jesus os condenou chamando os de HIPÓCRITA.

Os fariseus incluíam em seus ensinamentos uma ênfase especial sobre o dízimo, e sua recusa de adquirir alimentos ou tomar refeições em casa de não-fariseus para que não acontecesse que o dízimo do alimento não tivesse sido pago. Para o fariseu, o dízimo completamente pago era sinal de lealdade a Deus.

4.                        Kohler dos setes tipos de fariseus extremistas

a.                  O fariseu “ombro”, que fazia ostentação das suas boas obras diante dos homens com uma insígnia do ombro.

b.                  O fariseu “espere - um - pouco”, que pedia a qualquer pessoa que esperasse por ele enquanto realizava uma boa ação.

c.                  O fariseu “cego”, que feria a si próprio de encontro a uma parede, porque fechava os olhos para evitar ver uma mulher.

d.                  O Fariseu “pilão”, que andava com a cabeça pendente para não ver tentações sedutoras.

e.                  O fariseu “eterno-contador”, que andava sempre a contar se as suas boas ações se equiparavam às suas faltas.

f.                    O fariseu “temente a Deus”, que, como Jó era verdadeiramente justo.

g.                  O fariseu “amante-de-Deus”, como Abraão.

Havia muitos homens virtuosos e bons, nem todos eram hipócritas. Nicodemos, que procurou Cristo tão zelosamente durante o seu ministério terreno, e que, por fim, partilhou com José de Arimatéia à responsabilidade do sepultamento do corpo de Jesus, era um fariseu. Saulo de tarso, que por muito veemente perseguidos da igreja que fosse, confessava que era fariseu e filho de fariseu (At 23.6) e que “quanto a justiça que há na lei era irrepreensível” (Fl 3.6). Os padrões morais e espirituais do fariseu pode ter sido tendência para a justiça própria e, conseqüentemente, para a hipocrisia, mas eram no entanto, elevados os seus padrões, comparados com a média daquele tempo.

De todas as seitas do judaísmo, só a farisaísmo sobreviveu. Tornou-se o fundamento do judaísmo ortodoxo moderno, que segue o modelo da moralidade, do cerimonialismo e do legalismo farisaico.

3.               Saduceus

Os aristocráticos saduceus eram os herdeiros dos hasmoneados do período intermediário. Embora em menor número que os fariseus, detinham maior influência política, porquanto controlavam o sacerdócio. Seus contatos com dominadores estrangeiros, tendia a reduzir sua devoção religiosa, empurrando os mais na direção da helenização. Diferentemente dos fariseus, eles davam importância somente aos cincos primeiros livros do antigo testamento (o Pentateuco) (lei mosaica ou Torá). Como únicos plenamente autoritativos, e desprezavam as leis orais dos rabinos não-sacerdotais. Não acreditavam na pré-condenação divina, em anjos, em espíritos e nem os fariseus.

Embora estritos, em certo sentido os fariseus eram de tendências progressistas, pois continuavam aplicando a lei do Antigo Testamento a novas e mutáveis circunstâncias da vida diária. Todavia, os saduceus, confortavelmente situados na vida como estavam queriam manter o “status quo”, e, assim sendo resistiam a qualquer contemporização com a lei, a fim de que não viessem a perder suas favoráveis posições de abastança e riqueza. Visto haver sido destruído em 70 d.C. o centro do poder sacerdotal, o templo, juntamente com grande número dos saduceus propriamente ditos, o partido dos saduceus se desintegrou. Os fariseus, porém, sobreviveram, tendo-se tornado alicerce do judaísmo ortodoxo de séculos posteriores.

Eles foram os racionalistas religiosos daquele tempo (Mc 12.18-23; At 4.1-2; 5.17).

Deduzimos que na realidade os saduceus não se identificavam com nenhuma doutrina positiva, mas simplesmente negavam o sobrenatural. João no Evangelho de Mateus os chamou de Raça de víboras (Mt 3.7).

4.               Essênios

Uma comunidade religiosa judaica que floresceu no primeiro século A.C. e no primeiro século D.C., a terceira das filosofias ou escolas de pensamento judaicas enumeradas por Josefo.

Os Essênios formavam uma seita menor, com cerca de quatro mil adeptos. Tal como os fariseus eles tiveram origem entre os hasidim (aqueles que se desgostavam dos expansivos alvos políticos dos hasmoneanos). Alguns Essênios viviam em comunidades monásticas, como aquela de Qumran, onde foram descobertos os papiros do Mar Morto. A admissão requeria um período de prova de dois a três anos, com abandono das propriedades privadas e das riquezas, doadas a um tesouro comum.

Josefo nos fornece um relato bem detalhado do procedimento da iniciação dos Essênios. Segundo ele isso envolvia um noviciado de três anos. No fim do primeiro ano o noviço (que havia usado o hábito branco da ordem) era admitido à purificação ritual em água, porém dois outros anos tinham de passar-se antes que pudesse ser admitido à refeição comum. Isso era, evidentemente, o sinal da plena membrezia. Antes de passar finalmente do noviciado para a membrezia plena, era requerido do candidato uma série de juramentos solenes.

Há uma semelhança geral com as regras de admissão na comunidade de Qumran, conforme detalhado na regra de comunidade (1 QS), ainda que seja diferente em certo número de pontos particulares; por exemplo. (1 QS) exigia um noviciado de dois e não de três anos.

Ainda segundo Josefo, o dia comum dos Essênios, começava antes do nascer do sol com orações matutinas, dirigidas ao sol, “como que lhe rogar que se levantasse”. Até ao meio-dia, ocupavam-se de suas tarefas sob a direção de seu supervisor. Ao meio-dia os membros se banhavam e participavam de uma simples refeição em comum; então tornavam a vestir suas vestes de trabalho e continuavam suas tarefas até a tardinha, quando se reuniam para tomar outra refeição.

Matrimônio - Os elementos mais estritos se refreavam do casamento. Chegavam a ultrapassar aos fariseus em seu minucioso legalismo. Alguns escritores moderno acham que os Essênios tenham contribuído para erguer o cristianismo, mas é difícil de se aceitar tal idéia por causa do seu legalismo exagerado. Se Jesus denunciara o legalismo dos fariseus, por certo não teria denunciado também aos Essênios, que eram ainda mais rígidos. Além disso, o fato de Jesus misturar-se com os pecadores fazia agudo contraste com atitude dos Essênios que retiravam da sociedade. O evangelho de Jesus Cristo alcança a todos os pecadores.

1.                        Algumas características do viver diário dos Essênios

Segundo o comentarista Plínio, eles viviam por incontáveis gerações nas proximidades do Mar Morto, no lado ocidental, acima de Engodi.

Renunciavam, as riquezas dinheiro tanto quanto às mulheres.

Reunia-se à sua existência solitária por simples cansaço da vida ordinária.

Os Essênios não ofereciam sacrifícios de animais no templo de Jerusalém, porquanto reputavam o templo poluído por um sacerdote ou sacerdócio corrupto.

Como símbolo de sua pureza pessoal, eles usavam vestes brancas. Essa seita se considerava o remanescente vivo dos últimos dias.

Escatologia - Esperavam o aparecimento de diversos personagens escatológicos - um grande profeta, um messias político-militar e um messias sacerdotal - e se apresentavam para uma guerra de quarenta anos, que culminaria no reinado messiânico.

Mestre - Um antigo mestre chamado “Mestre da Justiça”, exercia profunda influência sobre suas crenças e práticas, mas nem de longe ocupavam a posição da proeminência divina remidora atribuída a Jesus dentro da doutrina cristã.

Na verdade não passa de mais um a seita falsa, com capa de santidade e de purificação, mas negando os rudimentos da verdadeira doutrina da salvação e os valores eficazes da fé genuína em cristo na sua palavra.

5.               Os herodianos e zelotes

Os herodianos não eram uma seita religiosa, mas uma pequena minoria de judeus influentes - pertencentes sobretudo à aristocracia de sacerdotes saduceus - que davam apoio à dinastia dos Herodes e, implicitamente, ao governo romano, que pusera os Herodes em posição de comando. Em contraste, os zelotes eram revolucionários dedicados a derrubada do domínio romano. Jesus foi perseguido pelos herodianos (conf. Mt 26.16; Mc 3.6; 12.13)

Os zelotes recusavam-se a pagar taxas a Roma, consideravam a lealdade a César um pecado, e foram iniciado de diversas revoltas, incluindo a rebelião judaica que resultou na destruição de Jerusalém em 70 D.C. os eruditos usualmente identificavam os zelotes com os sicários (“assassinos”), que costumavam levar consigo adagas escondidas. Ao sicários talvez fossem um ramo extremista dos zelotes, ou então um grupo separado que eventualmente veio fundir-se com o movimento dos zelotes.

Entre os doze discípulos de Jesus “um zelote”

Os zelotes não eram uma seita religiosa da mesma categoria dos fariseus ou dos Essênios. Constituíam um grupo de nacionalistas fanáticos que advogavam a violência como meio de libertar-se de Roma, no tempo do cerco em Jerusalém, sob o reinado de Tito, constituíam uma das facções dentro da cidade e a dissensão causada por eles contribuiu grandemente para a queda da cidade. Estavam ligados aos “Sicários” mencionados em atos 21.28.

entre os Zelotes, um dos doze discípulos principais de Jesus foram um zelote (“Simão chamado zelote” Lc 6.15; At 1.13).

6.               A família Herodiana

Nos evangelhos sinóticos a palavra “publicano” (em grego, telones) significa um coletor de impostos ou de alfândega em favor dos romanos, empregados por um contratador de cobrança de impostos. Já em 212 A.C., existia em Roma uma classe de homens (ardo publicanorum, lívio, XXXV. 3.8-19) que se ocupavam de contratos oficiais de várias espécies. Estavam intimamente associados à ordem eqüestre e por ela eram sustentados; e, em data posterior, agiam ativamente em diversas províncias, nas quais seu trabalho incluía a coleta de dízimos e vários impostos indiretos. O sistema desde o princípio estava sujeito a abuso, e os publicanos parece terem-se inclinado à extorsão e à malversação desde o início, de maneira tal que, se por um lado os excessos mais grosseiros eram restringidos pelo governo, havendo ocasiões em que a justiça interferia uma reputação geralmente má a respeito dos publicanos tem chegado até nós. Cícero considerava as ocupações, como a dos oficiais alfandegários, como vulgares, por causa dos ódios que despertavam e Lívio registra a opinião, expressa em 176 A.C., de que onde existe um publicano, os aliados não podem gozar de liberdade. Os contratadores centrais eram freqüentemente estranhos às províncias cujos impostos recolhiam embora nada houvesse contra o fato de serem nativos e podiam empregar sub-contratadores nativos (a expressão architelones, em Lc 19.2, parece subentender que Zaqueu era o contratador da cobrança de todos os impostos de Jericó, e que tinha coletores sob suas ordens). Porém, os coletores usualmente vinham dentre a população nativa, e suas práticas geralmente extorsivas (cf. o que significa uma admissão disso, nas palavras de Zaqueu, em Lc 19.8, e as condições implicadas no conselho dado por João Batista, em Lc 3.13) também os tornava uma classe especialmente desprezada e odiada, pelo que nosso Senhor pode referir-se a eles como tipos de atitudes egoísta (Mt 5.46). Para o judeu estrito, entretanto, essa atitude bastante normal de ódio era gravada e alterada em seu caráter pela consideração religiosa que o publicano era reputado cerimonialmente imundo por causa de seu contínuo contato com os gentios. Essa impureza, e o ensino rabínico de que seus alunos não deveriam comer em companhia de tais pessoas, explica a atitude evidenciada pelas expressões como publicanos e pecadores (Mt 9.10 e seg.; 11.19; Mc 2.15 e seg.; Lc 5.30; 7.34; 15.1) e publicanos e prostitutas (Mt 21.31), bem como as perguntas que aparecem em Mt 9.10 e seg.; 11.19; Mc 12.15 e seg.; (cf. Strack-Bilerbeck I, 498 e seg.) e indica a intenção do mandamento, que encontramos em Mt 18.17. Isso também dá sentido tanto ao aspecto positivo como ao aspecto negativo da denúncia dos principais sacerdotes e anciãos, em Mt 21.31b, à declaração de Mt 11.19; Lc 7.34, e a história do fariseu e do publicano, Lc 18.10.

7.               Os samaritanos

A queda de Samaria em 722 A.C., marcou uma nova era na história do reino israelita do norte. Os principais cidadãos foram deportados por Sargom, enquanto exilados de outras partes do império assírio foram importados por Sargom, Esar-Hadom e Assurbanípal. Os israelitas que foram deixados, formaram o âmago da nova comunidade e, a despeito da introdução de diversos cultos, ficou garantida a continuidade da adoração a Yahweh. Relações  mais íntimas passaram a ser mantidas com Judá, antes e depois da queda de Jerusalém em 568 A.C. (cf. 2 Cr 30.1;  e seg.; 2 Rs 23.19-20; Jr 41.4 e segs.).

No início do período persa, quando os judeus receberam permissão de retornar a Jerusalém foram eles permitidos a reedificar o templo e os muros da cidade. Imediatamente tiveram de enfrentar oposição da parte das classes dominantes na Samaria. Não há motivo para que se pense que essa oposição era mais do que política, visto que tão tarde como o término do século quinto A.C., os judeus de Elefantina, no Egito, puderam escrever solicitando auxílio, para a reconstrução de seu templo, tanto as autoridades de Jerusalém com as de Samaria.

Com o advento de Esdras e Neemias, a tensão, porém, tornou-se ainda mais profunda. O novo zelo pela pureza da raça, importado da comunidade judaica na Babilônia, se confrontou com a ascendência mista dos samaritanos. Quando o neto do sumo sacerdote se casou com a filha de Sambalate, Neemias o expulsou. Josefo relata um incidente semelhante, ao mesmo tempo em que data o incidente no século seguinte, tornando-se dificílimo harmonizar as duas narrativas. Talvez registrem acontecimentos bastante separados no tempo, ou Josefo pode ter se confundido acerca de alguns dos detalhes de que dispunha. Ele liga a edificação do templo samaritano no monte Gerizim juntamente com esse incidente, e ao datar o templo provavelmente está correto.

O rompimento final entre os judeus e os samaritanos deve ter ocorrido em cerca de 200 A.C., quando Ben Siraque escreveu Eclesiástico 50.25-26. Os samaritanos possuíam a lei, mas não os escritos proféticos, e isso pode igualmente sugerir um rompimento de relações por essa altura dos acontecimentos. No tempo da revolta dos macabeus, os samaritanos se inclinariam perante a tempestade, e seu templo, no monte Gerizim, era dedicado ao Zeus Xênio. Os hasmoneanos, entretanto, adquiriram uma crescente ascendência sobre Samaria e, por volta de 128 A. C., Hircano capturou Siquém e destruiu o templo do monte Gerizim.

Em  63 A.C., Pompeu conquistou a Samaria e a anexou a nova província da Síria. A cidade de Samaria tornou-se sede favorita de Herodes o grande, que lhe conferiu o novo nome de Sebaste, em honra a Augusto. Em 6 D.C., a Judéia e a Samaria foram novamente unidas em uma província de terceira classe sob a Síria, estando em Cesaréia a sede do procurador. Durante esse período, ao atrito entre os judeus e os samaritanos foi aguçado por diversos incidentes. Entre os anos 6 e 9 d.C., os samaritanos espalharam ossos no templo de Jerusalém, por ocasião de certa Páscoa. Em 52 d.C. , samaritanos houve que massacraram um grupo de peregrinos galileus em En-ganim. Isso provocou uma disputa perante o imperador Cláudio, que deu decisão favorável aos judeus.

Assim como os judeus, os samaritanos sofreram debaixo da repressão dos romanos. Em 36 d.C., um fanático samaritano reuniu uma multidão no monte Gerezim, prometendo revelar os vasos sagrados escondidos, e muitos deles foram massacrados por Pilatos. Um protesto para Votélio, o legado da Síria; obteve o desligamento de Pilatos, de suas funções. Na revolta de 66 d.C. Sebaste foi incendiada até os alicerces, e um grupo de teimosos no monte Gerizim, foi moído por Cerealis provavelmente em 67 d.C., desde então os samaritanos tem sobrevivido como uma pequena e freqüentemente perseguida comunidade, e até o dia de hoje, um pouco mais de trezentos samaritanos podem ser encontrados em Nablus (Siquém).

O credo samaritano consistia de seis artigos: crença no único Deus; em Moisés, o profeta; na lei, no monte Gerizim como o lugar apontado por Deus para o oferecimento dos sacrifícios (cf. o texto samaritano de 27.4); o dia de julgamento e recompensa; e a volta de Moisés como Taheb, o restaurador (algumas vezes semelhante ao messias). Sua crença na ressurreição é problemática. Os judeus consideravam os samaritanos como cismáticos, e não como gentios, e confiavam neles, por exemplo, no tocante aos dízimos e à impureza oriunda das sepulturas. O ponto principal da discórdia era o templo no monte Gerizim. O Pentateuco samaritano, a despeito de modificações teológicas, é um testemunho importantíssimo acerca do texto original.

João conta como Jesus passou dois dias em Siquém, aonde muitos vieram a confiar n’Ele. Durante o ministério, Ele reputava que sua missão visava primariamente a Israel, mas depois de Sua ressurreição o Senhor comissionou os apóstolos para que pregassem em Samaria, e a missão foi levada à efeito especialmente pelos judeus helenistas, depois do martírio de Estevão.

Nossas fontes acerca da história dos samaritanos são as seguintes: O Antigo testamento, especialmente 2 Rs 18; Esdras e Neemias; Eclesiástico 50.25,26

3.          As instituições do judaísmo

Quatro eram as instituições na vida religiosa da palestina do primeiro século: a sinagoga, o templo, as festas anuais e o sinédrio

1.               A Sinagoga

Ao cair a cortina sobre a história do Velho testamento, nenhuma referência temos de outro lugar de adoração que não o templo, salvo a atinente a líderes apóstatas, que procuraram manchar a religião de Israel, estabelecendo sobre morros lugares de culto, em imitação do ritual pagão. Ao abrirmos o Novo testamento imediatamente defrontamos com uma nova instituição de grande proeminência judaica, conhecida como sinagoga. A palavra é de origem grega e significa “reunidos juntamente”, isto é, em assembléia.

Quanto à origem da sinagoga, nada temos como elemento de certeza. Entre os judeus andava em voga a tradição de que fora fundada por Moisés, mas isto, naturalmente não era certo. A teoria com que concorda quase que unanimemente a escola bíblica atual é de que ela se originara em Babilônia, durante o exílio, tendo conquistado após a restauração um lugar permanente e definido na vida da nação. Depois que as tribos levadas ao cativeiro, já que desesperadamente haviam sido desgarrados do Templo com seu culto, os de mais devoção reuniam-se em algum lugar conveniente para ler e discutir as passagens da lei. O hábito de reunir-se se tornou mais regular e mais difuso, até que lugares e ocasiões determinados foram adotados para encontros especiais. A reforma empreendida por Esdras, que deu grande ênfase ao estudo da Lei, veio imprimir um grande impulso ao estudo sistemático da Lei.

A função precípua da sinagoga era prover um lugar para o estudo da Lei. O Templo constituía o lugar de culto, enquanto a sinagoga era o de instrução: a instituição educacional do judaísmo. “Em diversas cidades”, diz Filo “nossas casas de oração não são mais que instituições para o ensino da prudência e coragem, temperança e justiça, piedade e santidade”. O  ensino era administrado por escribas ou rabis, especialmente preparados para este fim e separados para este serviço por meio de especiais cerimônias de ordenação.

É provável que os serviços na sinagoga fossem, a princípio, realizados só nos dias de sábado, mas, muito antes dos tempos neotestamentários adotou-se o hábito de dirigir serviços de sinagoga nos grandes dias de festa para beneficiar os que não podiam subir a Jerusalém. No tempo de nosso Senhor, era costume realizar serviços de sinagoga às segundas e terças-feiras, além dos serviços aos sábados, para conveniência do povo em geral, o qual, como diz Hausrath, “trazia seus frutos ao mercado e suas disputas aos juizes” nesses dias.

Os serviços  da sinagoga transcorriam de acordo com um padrão mais ou menos fixo. Após os serviços preliminares que constavam de “bendições” de abertura, e da recitação de um ritual de confissão conhecido por “Shema” e oração, lia-se um determinado trecho da Lei; em seguida geralmente outro dos Profetas após o qual algo expositivo ou exortativo. O serviço era concluído com a bênção final pronunciada por um sacerdote.

Em conexão com a sinagoga haviam um grupo de oficiais. Os de mais importância eram os anciãos, escolhidos pela congregação para supervisionar a vida comunitária. Dentro da Palestina, nas grandes cidades dominadas pela população judaica, os anciãos exerciam controle tanto sobre os negócios religiosos como civis, mas, na Dispersão, suas prerrogativas limitavam-se, naturalmente, apenas às religiosas. Os serviços regulares da sinagoga estavam a cuidado de um oficial conhecido como “dirigente”. Este cuidava da conservação do edifício, tomava conta dos rolos da Escritura que a sinagoga possuía, e dirigia os serviços da sinagoga ou escolhia alguém para que o fizesse. Outros oficiais, conhecidos como “recebedores”, responsabilizavam-se pela coleta e distribuição de esmolas. Um oficial subalterno, conhecido como “ministro” (no grego diáconos), atuava como auxiliar, servia na qualidade de secretário da sinagoga em suas transações com o mundo exterior.

Nos dias de Jesus e Paulo, não havia no judaísmo outra instituição de maior influência que a sinagoga.

Onde quer que pudessem ser encontrados dez judeus adultos do sexo masculino formava uma assembléia. Uma vez instituída como uma instituição, as sinagogas prosseguiram em existência até a reconstrução do templo, sob a liderança de Zorobabel.

A sinagoga típica era um auditório retangular com uma plataforma elevada para o orador, por detrás da qual havia uma arca portátil ou um nicho, contendo rolos do Antigo testamento. A congregação se assentava em bancos de pedra, que estavam alinhados ao longo de duas ou três paredes, ou em esteiras e, possivelmente, assentos de madeira no centro do salão. Defronte de rostos voltados para a congregação assentavam-se os dirigentes ou anciãos da sinagoga. Os cânticos não eram acompanhados por instrumentos musicais. A fim de ler algum rolo do Antigo testamento, o orador se punha de pé. Ao pregar, ele se sentava. Quando das orações, todos se reerguiam de pé. O culto típico de uma sinagoga consistia de recitação do Shema (Dt 5.4 e ss., de louvores a Deus), oração, cântico de Salmos, leituras do Antigo testamento hebraico, da lei e dos profetas, com um targum, ou seja, frouxa tradução oral para o aramaico (ou para o grego), que muitos judeus entendiam melhor que o hebraico, um sermão (se alguém competente para tanto estivesse presente), e uma bênção proferida. Havia ampla liberdade no fraseado da liturgia. A congregação inteira adicionava o seu “Amém”, no final das orações. O chefe da sinagoga selecionava diferentes membros da congregação para conduzir as recitações, ler as Escrituras e orar. Visitantes competentes, por semelhante modo, eram convidados a falar, uma prática que abriu muitas oportunidades para Paulo pregar o evangelho nas sinagogas.

2.               O Templo

1.                        O Pano de fundo histórico

Algumas das primeiras estruturas construídas pelo homem foram templos, santuários onde podiam adorar o seu deus em sua “casa”. A torre de babel é a primeira estrutura mencionada na Bíblia que subentende a existência de um templo (Gn 11.4). Embora aparentemente essa torre tivesse sido planejada como lugar onde o homem podia encontrar-se com Deus, simbolizava a autoconfiança do homem ao tentar subir ao céu, e a causa de tal orgulho foi condenada.

Na Mesopotâmia, que Abraão abandonou, cada cidade tinha um templo dedicado à sua divindade padroeira. O deus era considerado como proprietário da terra, se a mesma não fosse abençoada por ele, permaneceria improdutiva, resultando rendas deficientes para o templo. O rei ou governante local agia como mordomo em lugar do deus.

Salomão contratou um tírio para encarregar-se da obra, e usou operários  fenícios (1 Rs 5.10-18; 7.13,14). Não é surpreendente encontrar paralelos do trabalho do templo e de sua decoração em exemplos sobreviventes de obras fenícias ou cananéias. A planta do Templo é muito semelhante à de um pequeno santuário do séc. IX a.C., escavado em Tell Tainat, às margens do rio Orontes. Esse exibe os três aposentos, um átrio no santuário mais externo e duas colunas no pórtico, ainda que sustentando o telhado. Em Hazor, um santuário pertencente à Idade do bronze, posterior é igualmente tripartido, foi construído com tábuas postas entre as fileiras de pedra (1 Rs 5.18; 6.36). Nos painéis de marfim que tem sido escavados (das paredes ou móveis do palácio) encontrados por todo o oriente, das épocas antigas, são trabalho de fenícios, freqüentemente com temas egípcios. Entre os temas decorativos preferidos aparecem flores, palmeiras e esfinges aladas, que sem dúvida, podem ser comparadas com as decorações do Templo de Jerusalém. Tal como nos painéis do templo, essas decorações se acham recobertas de ouro e ornamentadas de pedras coloridas.

2.                        O templo de Herodes

A ereção do templo de Herodes, que começou no início de 16 a.C., foi uma tentativa de reconciliar os judeus com seu rei idumeu, em lugar de procurar glorificar a Deus. Grande cuidado foi tomado para reverenciar a área sagrada durante a obra, chegando ao extremo de serem treinados mil sacerdotes como pedreiros para edificarem o santuário. Embora a estrutura principal houvesse sido terminada em dez anos (9 a.C.) o trabalho teve prosseguimento até o ano 64 d.C.

Como base para os edifícios do Templo, e para prover uma área de reuniões, foi nivelada uma área com cerca de 450 metros do norte ao sul, e com cerca de 300 metros do leste a oeste. Em certos lugares a superfície rochosa foi nivelada, mas uma grande parte foi entulhada com detritos enquanto que a área interna foi cercada por um muro de enormes blocos de pedra (normalmente com 60 cm de altura e até 5 metros de cumprimento; Mc 13.1). Na esquina do sudeste, dando frente para a ravina de Cedrom, o átrio interno estava a cerca de 50 metros acima da rocha. Talvez que o parapeito acima dessa esquina fosse o pináculo do templo (Mc 4.5,9). Há trechos desse muro que ainda estão de pé. Um pórtico atravessava o muro do lado leste. Vestígios dos dois portões herodianos, do lado sul, ainda são visíveis abaixo da mesquita de el-Aqsa. Rampas haviam que conduziam desse nível até ao nível do átrio. Quatro portões davam frente para a cidade pelo lado ocidental. Para atravessar o vale do Tiropoen havia viadutos que levavam a esses portões. Essa era a residência dos procuradores quando se encontravam em Jerusalém, e a sua guarnição estava sempre nas proximidades para subjugar qualquer intranqüilidade no templo (Lc 13.1; At 21.31-35). As vestes do sumo sacerdote eram guardadas ali, como sinal de sujeição.

O átrio externo do templo estava rodeado por um pórtico, dentro dos muros, conforme descrito por Josefo, o pórtico sul tinha quatro fileiras de colunas e era chamado de pórtico real. Os pórticos dos outros lados tinham cada qual duas fileiras de colunas. O Pórtico de Salomão de prolongava por todo o lado oriental (Jo 10.22; At 3.11; 5.12). Era debaixo dessas colunatas que os escribas mantinham suas escolas e seus debates (Lc 2.46; 19.47; Mc 11.27), e ali é que os comerciantes e cambistas tinham instalado as suas mesas (Jo 2.14-16; Lc 19.45,46). A área interior estava um pouco mais elevada que o átrio dos gentios, e era cercada por uma balaustra. Avisos, escritos em grego e latim, advertiam que nenhuma responsabilidade haveria sobre a morte provável de qualquer gentio que se aventurasse a até ali penetrar. Duas dessas inscrições tem sido encontradas. Quatro portões davam acesso para os lados norte e sul, e um portão dava acesso para o lado leste. Este último contava com as portas de trabalho corinto em bronze e talvez tenha sido a Porta Formosa de At 3.2

O primeiro átrio do lado de dentro do templo (o átrio das mulheres) continha as caixas para as dádivas que serviam para financiar as despesas com o culto (Mc 12.41-44). Aos homens era permitido entrarem no Átrio de Israel, elevado acima do nível do átrio das mulheres, e no tempo da Festa dos Tabernáculos podiam entrar no Átrio mais interno (Átrio dos Sacerdotes), para andarem ao redor do altar. Esse altar fora construído por pedras toscas, não lavradas, a 22 côvados de distância do pórtico (Mt 23.35). O plano do santuário era uma cópia do de Salomão. O pórtico tinha 100 côvados de largura e 100 côvados de altura, uma entrada com 20 côvados de largura e 40 de altura, dava admissão, e outra entrada com metade dessas dimensões levava para o santo lugar. Este santo lugar tinha 40 côvados de comprimento e 20 côvados de largura. Uma cortina dividia o santo lugar do santuário mais interno (Mt 27.51; Mc 15.38; 2 Cr 3.14). O santuário interno tinha 20 côvados em quadrado e, à semelhança do santo lugar, era de 40 côvados de altura. Um aposento vazio, por cima do lugar santo e do santuário interno se elevava até a altura do pórtico, 100 côvados, assim tornando nivelado o telhado. Três andares de aposentos rodeavam os lados norte, sul e oeste, até uma altura de 40 côvados. Espigões de ouro se projetavam do telhado para impedir que as aves ali se instalassem.

A magnificente estrutura de pedras creme e de ouro nem bem foi terminada (64 d.C.) antes de ser destruída pelo exército romano (70 d.C.). O candelabro de ouro, á mesa dos pães da proposição e outros objetos foram levados triunfalmente para Roma.

3.                        Templo no novo testamento

Dois vocábulos gregos, hieron e naos, são traduzidos geralmente para “templo”. O primeiro desses vocábulos se refere a uma coleção de edifícios que compunham o Templo de Jerusalém, enquanto que o último se refere mais especificamente ao próprio santuário. Os comentadores tem por hábito chamar a atenção para o fato que a palavra preferida, pelos escritores do Novo Testamento, para descrever a Igreja como Templo de Deus, é naos. Porém, o emprego de naos, em Mt 27.5 e Jo 2.20 nos impede de depender muito desse fato. No caso de Mt 27.5 tal termo deve quase sem dúvida ser compreendido no sentido de hieron, pois de outra maneira teríamos a formidável dificuldade de explicar como Judas Iscariotes conseguiu penetrar na área que estava vedada a todos com exceção dos sacerdotes. Quanto à afirmação feita pelos judeus em Jo 2.20, que quarenta e seis anos já vinham sendo gastos na edificação do naos, é improvável que apenas o santuário estivesse em mente. O emprego de naos como sinônimo de hieron também se faz presente nos escritos de Heródoto.

4.                        O Templo nos Evangelhos

A atitude de Jesus para com o templo de Jerusalém contém duas características opostas. Por um lado, Jesus o respeitava grandemente, por outro lado, Ele dava relativamente pouca importância ao mesmo. Assim Ele o chamou de “casa de Deus” (Mt 12.4; Jo 2.16). Tudo quanto havia nele era santo, conforme ele ensinou, visto que foi santificado por Deus para nele habitar (Mt 23.17-21). O zelo pela casa de seu Pai, impeliu à purificá-la (Jo 2.17), e o pensamento sobre a iminente catástrofe que sobreviria à cidade santa O levou a chorar (Lc 19.41). Em contraste com isso, figuram aquelas passagens em que Jesus relegou o Templo a uma posição extremamente subordinada. Ele era maior que o Templo (Mt 12.6). O Templo se transformara em máscara para a esterilidade espiritual de Israel (Mc 11.12-26). Logo haveria de ser destruído, pois uma terrível contaminação o tornaria impróprio para continuar sua existência (Mc 13.1; Mc 14.57, 15.29). Essas diferentes atitudes, entretanto, não deixam de ter a sua explicação.

No início de seu ministério, Jesus se apresentou aos Judeus e convocou toda nação de Israel ao arrependimento. A despeito da crescente oposição, encontramo-lo apelado para Jerusalém (Mc 11.1). O templo foi purificado tendo em vista a reforma da ordem existente (Mc 11.15). Mas, as implicações messiânicas dessa ação (Ml 3.1; Sl 17.32; Mc 1.27) , engendraram uma hostilidade ainda mais intensa da parte das autoridades religiosas, e o judaísmo, persistentemente endurecido e irreformável, foi finalmente reputado indigno da presença divina (Mt 12.1-12). Assim Jesus que começara por venerar aquele. A acusação assacada por ocasião do julgamento, a qual asseverava que Jesus Havia assinado que  “Eu destruirei este santuário edificado por mãos humanas, e em três dias construirei outro, não por mãos humanas” (Mc 14.58; 15.29), teria sido dessa maneira, uma apropriada conclusão do apelo de nosso Senhor aos Judeus. Todavia Marcos atribuiu tal afirmativa a testemunhas falsas, e o que constituía exatamente a falsidade do testemunho e estão de conjectura entre eruditos. Provavelmente é mais aconselhável entender a acusação com uma combinação sem escrúpulos da predição de Jesus de que o templo de  Jerusalém seria destruído (Mc 13.2) com a afirmativa de que o filho do homem seria morto e ressuscitaria ao terceiro dia (Mc 8.31; 9.31; 10.34). Em outras palavras, a falsidade consistia no torcer propositadamente aquilo que realmente Jesus ensinara. Um dos motivos por que Marcos não se incomodou em corrigir a deturpação pode ter sido devido o fato que a acusação era verdadeira no sentido muito mais profundo do que as falsas testemunhas imaginavam. A morte de Jesus de fato resultou no fato que o templo de Jerusalém se tornou obsoleto, enquanto que a sua ressurreição colocou outro templo em lugar daquele. O novo templo passou a ser congregação escatológica de Jesus, o Messias (Mt 18.20; Jo 14.23). Lucas e João, por tanto, não faz qualquer referência as testemunhas falsas visto que a acusação dos mesmos, quando escreve ramos seus evangelhos, não era mais visto como destituída de base.

5.                        Templo nos atos dos apóstolos

Algum tempo se passou, entretanto, antes que todas as ramificações da obra de Cristo se tornassem evidentes, e no livro de Atos encontramos os apóstolos adorando ainda no templo de Jerusalém (At 2.46; 3.1; 5.12-20-42; .Lc 24.52). parece que o partido judaico-helenístico, representado por Estevão, foi o primeiro a descobrir que a fé em Jesus como Messias significava a ab-rogação da ordem de coisas simbolizadas pelo templo de Jerusalém (At 6.11), de acordo com isso, a defesa de Estevão se tornou um ataque contra o templo, ou seis corretamente, contra a atitude mental que o templo originava (At 7). Mas, não estamos certos se é justificável , encontrar denúncia de Estevão contra o templo uma indicação da existência do novo templo erguido sem auxílio de mãos, conforme fazem alguns comentadores. Encontramo-nos em terreno mais firme em At 15.13-18. O “tabernáculo de Davi” em Am 9.11, para dizer a verdade, tem o sentido primário de dinastia ou reino, mas o emprego desse texto do Antigo Testamento na escatologia dos compactuados de Qumram, em apoio de sua novel concepção de um templo espiritual, permite-nos ver aqui um delineamento da doutrina da igreja como um novo templo de Deus, que é uma característica comum nas epístolas.

6.                        Templo nas epístolas

A doutrina da igreja como a materialização do templo Messiânico do Antigo testamento e da escatologia intertestamental, aparece com maior proeminência nos escritos de Paulo. 1 Co 3.16-17; 6.19; 2 Co 6.16-7.1; Ef 2.19-22. O apelo a profecia se faz particularmente forte no caso de 2 Co 6.16, onde temos uma combinação de passagens do Antigo Testamento (Lv 26.12 e Ez 37.27) que já era usada na escatologia judaica acerca do templo Messiânico. Semelhantemente característico da imagem do templo, em 1 e 2 Coríntios, é a sua aplicação hortatória e admonitória. Visto que os crentes são cumprimento da esperança longamente aguardada pelo templo glorioso, é preciso que os crentes vivam de maneira santa (2 Co 7.1; Co 6.18). a unidade também é exigida da parte deles. Visto que Deus é um só, há apenas a habitação na qual ele pode habitar. O cisma é a mesma coisa que a profanação do templo, merece a mesma terrível penalidade de morte (1 Co 3.5-17). Na Epístola aos Efésios a figura do templo é empregada no interesse da destruição doutrinária. O principal pensamento do escritor é o caráter inter-racial da igreja. A linguagem do contexto de 2.19-22 deixa claro que o apóstolo se baseou liberalmente na esperança do antigo testamento  acerca da reunião entre Israel e as nações, no templo escatológico de Jerusalém; por exemplo, as palavras “longe” e “perto”, nos vers. 13 e 17 (Is 57.19; Dn 9.7) era um termo técnico dos rabinos para designar os gentios e os judeus, respectivamente. Similarmente, a “paz” mencionada nos  vers. 14 e 17 faz alusão a paz escatológica que haveria de prevalecer quando Israel e os povos se unissem no culto único prestado em Sião (Is 2.2; Mq 4.1). Paulo indubitavelmente concentrava os frutos dessa missão entre os gentios como cumprimento da fé judaica em sua seleta e generosa expressão. Ele “espiritualizou” a antiga esperança de uma humanidade remida unida, e fazia com que judeus e gentios representassem as duas paredes de um só ofício, reunidas e apoiadas em Cristo, que é a pedra principal de esquina (Ef 2.19-22).

A declaração de que o ofício da igreja “cresce” até ser um “templo” introduz um simbolismo diferente, a saber, o símbolo de um corpo, e revela certa fusão de imagens. “Templo”  e  “corpo” são idéias que terminam juntas na igreja. Note-se a justaposição dos dois conceitos em Ef 4.12-16.

Procura-se freqüentemente paralelos do uso que Paulo fez da metáfora em 1 Coríntios, nos escritos de Filo e dos estóicos onde o indivíduo é chamado de “templo”. Ter prática dificilmente tem justificativa, entretanto, 1 Co 6.19-20 em realidade tem o indivíduo em mente, mas tão somente como membro da comunidade que coletivamente compõe o templo de Deus. Filo e os humanistas greco-romanos “espiritualizavam” a palavra “templo” para fazer parecer a antropologia, enquanto que Paulo estava pensando na eclesiologia e na escatologia tendo apenas um interesse muito secundário na antropologia. Se o leitor desejar comparação entre dois conceitos, com muito maior justificação poderá encontrá-las nos escritos dos compactuados de Qumran.

Com a idéia de “templo”, nos escritos paulinos, deve-se conferir a idéia de “casa”, em 1 Pedro 2.4-10, onde se torna manifesto que as numerosas alusões feitas no Novo Testamento ao caráter sacerdotal e sacrificial da vida cristã se originam do conceito da igreja como santuário de Deus. (Hb 3.1-6).

7.                        Templo em Hebreus e Apocalipse

A idéia de um templo celestial, que era comum entre os semitas e que ajudou a sustentar a esperança dos judeus quando as exigências do período intertestamental faziam parecer que o templo de Jerusalém jamais se tornaria a metrópole do mundo, foi adotada desde o início pelos crentes cristãos. Alusões a isso se fazem presentes em Jo 1.51; 14.2; Gl 4.21; Fp 3.20. O “edifício” de Deus, “casa não feita por mãos, eterna, nos céus”, na notoriamente difícil passagem de 2 Co 5.15, talvez também tenha alguma ligação com essa idéia. Tal conceito, naturalmente, é mais bem desenvolvido na epístola aos hebreus e no livro de Apocalipse.

Segundo o escritor da epístola aos Hebreus, o santuário no céu é o modelo, isto é, o original Ex 25.8, enquanto que o templo usado pelos judeus era apenas uma “figura” Hb 8.5. O santuário celestial é, por conseguinte, o verdadeiro santuário Hb 9.24. Pertence ao povo da nova aliança (Hb 6.19-20). Além disso, o fato que Cristo, nosso sumo sacerdote, se encontra nesse santuário significa que nós, embora ainda estejamos neste mundo, já participamos da adoração naquele templo celeste. Que é esse templo? O escritor sagrado nos supre certa indicação quando diz que o santuário celestial foi purificado (9.23), isto é, preparado para ser usado (Nm 7.1). A assembléia dos primogênitos (Hb 12.23), ou, em outras palavras a igreja triunfante, é o templo celestial.

O templo celestial, no livro de Apocalipse, faz parte do grande esquema de espiritualização propostos pelo autor sagrado, onde também deve ser levado em consideração o celestial monte Sião 14.1; 21.10 e a nova Jerusalém 3.12; 21.2. Em realidade, ao profeta de Patmos foram exibidos dois templos - um no céu e outro na terra. Este último aparece em 11.1. A igreja militante, perseguida na terra, é pintada sob o disfarce do templo de Jerusalém pois o átrio externo, isto é, os mornos que estão à beira da igreja, foi excluído das medidas tomadas. O simbolismo se fundamentou um tanto em Zc 2.5 , e aparece ter o mesmo sentido  que a selagem dos 144.000 em 7.1-8. Os que foram medidos, isto é, os numerados, são os eleitos a quem Deus protege.

“Espiritualização” semelhante é evidente na visão que o autor sagrado teve sobre o templo dos céus. No alto do monte Sião, João viu não um magnífico edifício, mas antes, a companhia dos redimidos 14.1; 13.6. O que João queria era que seus leitores considerassem o exército de mártires como um substituto de um templo, conforme indicado em 3.12, com as palavras: “Ao vencedor, fa-lo-ei coluna no santuário do meu Deus”. O templo celestial, por conseguinte, “cresce”. Tal qual seu paralelo terreno, quando cada um dos fiéis fala o seu testemunho com martírio. O edifício celestial ficará finalmente completo quando o número decretado dos eleitos for preenchido. É da parte desse templo, composto de seres vivos, que Deus envia o seu juízo contra as nações impenitentes, tal como anteriormente dirigia os destinos das nações do templo de Jerusalém.

A nova Jerusalém não terá qualquer templo. Em um documento como o livro de Apocalipse, que segue os símbolos e motivos  tradicionais tão de perto, a idéia de uma Jerusalém sem templo é evidentemente uma novidade. A afirmativa de João de que “Nela não vi santuário”, tem sido considerada como afirmação que significa que a cidade inteira será um templo; note-se que o formato da cidade é um cubo 21.16, semelhante ao Santo dos Santos do templo de Salomão (1 Rs 6.20). Porém, não é exatamente isso que João diz. Antes, assevera claramente que Deus e o Cordeiro são o templo. O que provavelmente ele queria dizer é que o lugar do templo estão Deus pai e seu filho. Efetivamente, essa parece ser a grande revelação para qual o escritor sagrado vinha preparando os seus leitores. Primeiramente ele anuncia dramaticamente que o templo no céu foi aberto e que o seu conteúdo foi deixado exposto aos olhos humanos 11.9. Adiante deixa aparecer a indicação que a habitação divina é justamente o próprio Deus. Finalmente, afirma de maneira direta que o templo é o Senhor Deus Todo-Poderoso e o Cordeiro,. Uma depois outra as barreiras que cercaram o homem de deus são removidas, até que nada mais resta para ocultar Deus de seu povo. “Os seus servos ... contemplarão  a sua face” o glorioso privilégio de todos quantos entrarem na nova Jerusalém.

O emprego pelo autor do livro de Apocalipse, do antigo motivo do ajuntamento e reunião de Israel e das nações, no templo escatológico,. É dessa maneira diferente do emprego feito por Paulo, ainda que lhe seja complementar. Paulo, conforme já verificamos acima, aplicou-o à igreja terrestre; João o proteja para o reino celestial e para o segundo vindouro. Essa diferença é outra ilustração sobre a flexibilidade do simbolismo do templo.

3.               Sinédrio

Este era constituído por um grupo de setenta e um anciões judeus e presidido pelo sumo sacerdote (perfazendo ao todo um total de setenta e dois). A corporação    para si tanto o poder legislativo como o judiciário. Ao ser a Palestina unificada como uma só província, o sinédrio tinha jurisdição sobre toda a região, mas no tempo de Jesus controlava apenas a Judéia. Não obstante isso, seus pareceres foram sempre acatados em todos os tempos pelos judeus de toda a Palestina, incluindo até mesmo os da Dispersão. De fato, o governo romano parece ter-lhe reconhecido a jurisdição em matéria de religião durante todo o tempo em que existiu o judaísmo. No judaísmo palestiniano, sua autoridade era religiosa e civil, ao passo que no judaísmo helênico, era apenas religiosa. Daí, poder Paulo ir a Damasco, autorizado pelo Sinédrio, com a missão de prender os cristãos judeus acusados de heresia. As funções civis do sinédrio eram principalmente judiciais. Dentro da sua jurisdição, o sinédrio tinha poderes para resolver qualquer caso civil, assim como os casos criminais que não implicassem na pena capital. A única exceção em matéria de casos capitais consistia em poderem sentenciar à morte qualquer pessoa que profanasse o Templo.

O nome da corporação deriva do grego (sunedrion) e significa “sentados juntos”. É citado primeiramente em conexão com os acontecimentos ocorridos por volta de 5 a.C. Suas prerrogativas, tais como as vemos desempenhadas durante o período neotestamentário, foram recebidas do governo romano pouco depois de 63 a.C. Seu período de maior influência vai do estabelecimento do domínio romano até a destruição de Jerusalém, ocorrida em 70 d.C. Não aparece, entretanto, ter ele recebido permissão para uma liberdade mais ampla de operações durante o reinado de Herodes. Após a destruição de Jerusalém, o Sinédrio foi abolido. Desse modo, a história do sinédrio durou pouco mais de cem anos. Entretanto, durante este breve período, exerceu poderosa influência sobre os negócios judaicos.

4.               Seitas Judaicas

Já tivemos ensejo de referir acima a existência de três elementos fundamentais do judaísmo: a Nação, a lei e o sacerdócio. O amor à nação trouxera a restauração. A medida que a nação progrediu, a vida do judaísmo reuniu, naturalmente, os outros dois elementos básicos, a Lei e o sacerdócio, desenvolvendo suas duas correntes distintas de interesse religioso. A que se relacionava com o Sacerdócio dizia respeito à perpetuação do ritual realizado através das cerimônias do culto no Templo. Neste setor, o sumo sacerdote imperou, atraindo para si os interesses políticos da nação. Isto mesmo assumiu caráter real, especialmente depois do período macabeu, quando as prerrogativas de sumo sacerdote e rei foram  às vezes acumuladas, o ensino da Lei, tarefa levada a efeito pelos escribas e sediada na Sinagoga.

No princípio da história judaica estes dois interesses existiam quase que inseparáveis, mas não tardou a surgir uma brecha, que tanto mais se foi alargando quanto se foi desenrolando a história. Com o tempo o grupo sacerdotal deixou-se embair pelos negócios políticos; o grupo escriba, impaciente com a política, dedicou-se em propósito de extrema renúncia, à aplicação individual da Lei. A medida que as correntes variadas e litigiosas da luta racial passavam e repassavam através da Palestina - “ponte do velho mundo” - os sacerdotes, como líderes políticos, não pouparam esforços no sentido de manter o judaísmo bem ajustado e conformados aos poderes governantes, nem em conseguir a garantia de uma existência nacional satisfatória e vantajosa. Para os adeptos fanáticos da Lei, essa adaptação afigurou-se-lhes compromisso imperdoável, parecendo-lhes abominável. Representa ela apenas essa milenar oposição que encontramos em toda a história do progresso humano entre elementos conservados e liberais. Os escribas pendiam mais para o lado conservador, ao passo que os sacerdotes, para o lado liberal.

Desse modo, a Lei e o Templo, destinados a ser participantes mútuos de uma tarefa santa comum, passaram a antagonizarem-se através dum cisma que não tinha fim. Não se deve deduzir, entretanto, que todos os sacerdotes estivessem interessados apenas em objetivos políticos, nem que todos os escribas fossem indiferentes à política. Muitos dos sacerdotes estudavam com dedicação a lei, e muitos escribas interessavam-se grandemente pelas contingências da política. Isto é, se nos for permitido antecipar as distinções que mais adiante elucidaremos em nossa discussão, diremos que havia fariseus entre os sacerdotes e escribas entre os saduceus. De modo geral, porém, o elemento sacerdotal da nação concentrava seu interesse num sentido, enquanto o elemento escriba noutro de curso diferente. Destas duas correntes divergentes da vida judaica com sua interação, saíram as seitas judaicas do período do Novo Testamento.

 

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